Uma fotografia e uma citação ... parte IV - Franz Kafka
"Quem conserva a capacidade de ver a beleza nunca envelhece"
Franz Kafka
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"Quem conserva a capacidade de ver a beleza nunca envelhece"
Franz Kafka
GOSTAR, APAIXONAR E AMAR
Beijar sim outras vezes não,
frio na barriga mas de pés no chão
abraçar mas por muito tempo, não.
É querer ter mas não se dar
é admirar mas dos defeitos lembrar.
Gostar é um bem-estar
um chocolate a dividir, repartir e a dar
mas uma parte guardar.
Já apaixonar é enlouquecer.
O longe torna-se perto
a noite torna-se dia
o frio torna-se calor.
É expressar através do olhar
é tirar a roupa sem pensar
é suar, tremer, gemer, gritar e arranhar
fazer um poema sem rimar.
Amar não é gostar nem apaixonar
é cuidar, proteger e zelar
é libertar, partilhar e somar.
Uma ferida que nunca vai cicatrizar
um nunca abandonar.
É resistir a todas as tentações
é carregar a pessoa por onde quer que vás,
é querer esquecer e não seres capaz.
Amar não é responsabilidade do cupido
é um sentimento que não consegue ser medido,
são todos os motivos que apesar de se tentar
é impossível sobre eles meditar, pensar e muito menos, falar.
Paulo Brites
A GAVETA DO POETA
A gaveta do poeta não tem fundo
Tem lá tudo o que não quer
e aquilo que há-de ser:
os alinhavos do mundo
Tem postais de mil locais
e um resto de maçã
Há sempre num canto qualquer
logo depois de amanhã
um retrato de mulher
Tem o caos lá de guarida
e um papel vacinado
tem o mar todo entornado
e uma estrela de semente
Tem num saco lacrimal
a caneta preferida
com a dor da sua gente
E tem a casa deserta
o palhaço o avião
e um sorriso tão antigo
que escondeu da multidão
Tem o medo o embaraço
até o sonho tem espaço
Só não tem medida certa
nem barco de salvação
É por isso que a gaveta do poeta
não tem fundo e está aberta
porque não tem hora certa
para sair o coração
João Monge
UM POEMA AO FATALISMO
Mas que coisas?
Coisas, não existem!
Castigo e punição
no universo também não!
Não confundir fase má
com fase complicada,
uma desaparecerá
outra morrerá.
Fiel aos seus princípios
tal qual Abraão
caminhos e consequências
outras coisas são e não punição.
Se tudo está difícil,
numa realidade negativa
há que deixar entrar, influencia positiva.
O mel e o leite correrão
acompanhando valores e evolução,
ao seu redor, alegrias voltarão.
A felicidade e o caos sempre funcionarão.
O universo não trabalha com injustiças
mas sim com retorno,
mudanças ao nosso redor
com certeza, trarão, novos dias sem dor.
Paulo Brites
AFINAL, NÃO É DIFICIL AMAR
Uma porta aberta, uma passagem
como num comboio sem paragem
e sem janelas com miragem.
Apresentar, falar,
dialogar, socorrer,
ainda antes de acontecer.
Um beijo ao acordar
esquecer a palavra mudar
ter sempre tempo para dar.
Errado ou não, desculpar!
Com medo de nos envergonhar,
na hora de trabalhar sentir a beleza do baralhar,
se devo ou não abrir,
uma mensagem acabada de enviar.
Uma espera para o chuveiro se utilizar;
um incenso; uma massagem! Um diálogo ao jantar
um passeio para dar um desejo para sonhar
um abraço e um beijo para aconchegar.
Um futuro incógnito mas atento
que em todo o momento
é necessário conquistar.
Afinal, não é assim tão difícil de amar.
Paulo Brites
Na transparência da sua intransparência
do querer, do existir, do sonhar
na translucidez do opaco
do não ver, sentir e observar.
O umbigo nos pés
os lábios no pescoço
os ouvidos nas mãos e o olhar no peito
como quem pensa, que é perfeito.
Os sinônimos e antônimos do verbo ser
na gramática de uma enciclopédia oral;
Os adjetivos e substantivos
na sua forma formal.
A inexistência de espelho para calçar os pés
a falta de botões para pentear os braços,
os peitos caídos com falta de geometria
tal qual, a saia dos sapatos.
Os números primos, pares ou ímpares
numa progressão geométrica
de que, a falta de métrica
a leva a todos os lugares.
Na transparência da sua intransparência
do querer, do existir, do sonhar
na translucidez do opaco
do não ver, sentir e observar.
Paulo Brites
RUMO
Um tijolo. Dois. Mais outro. Um muro!
Um verso. Dois. Mais outro, Um poema!
Um cravo. Dois. Mais outro. O futuro!
Um braço no abraço sem algema!
Assim se constrói aos poucos um rumo,
um quintal jardim onde caibam todos.
Iremos devagar mas a prumo
distribuir esperança a rodos!
Luis Filipe Marcão - In Poemas Sem algemas 1984
- O que me encanta?,
perguntas-me.
- Encanta-me a vida
que posso sonhar,
que em traços leves
construo no ar,
esboçando cada traço,
cada toque,
cada semente…
que me permite
lentamente,
sem pressa,
ir sentindo brotar
Encanta-me os dias cinza
sobre o verde do campo,
aquele sossego…
de jade profundo
sombreado no horizonte
de ressaltos constantes,
onde a brisa do vento,
tal como o meu peito,
se aquietam
na linha do tempo
Encanta-me o delineado
dos teus lábios,
esse, que se oculta
num semblante sério,
de olhar profundo
e enigmático,
envolto em mistério
e que eu desvendo,
quando com meus dedos,
suavemente atrevidos,
te toco e traço
as linhas do rosto,
respondo-te,
assim,
tão simplesmente...
Graça Aguiar
SEMPRE EXISTIRÁ ALGUÉM COMO EU!
Houve um poeta que disse:
Amor é fogo que arde sem se ver.
Houve um filósofo que disse:
Só sei que nada sei!
Houve um músico que disse:
Imaginem que não há países.
Há Sabina que diz:
Eu não sabia que a primavera durava um segundo.
Há Bob Dylan que diz:
Eu sou só um carteiro. Só entrego músicas.
Há um Assis que disse:
Está morto: podemos elogiá-lo à vontade.
Houve um aviador que disse:
O essencial é invisível aos olhos.
Houve um Indiano que disse:
O amor é a força mais subtil do mundo.
Houve um homem de cor negra que disse:
O que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons.
Houve um louco que disse:
Tem cuidado com a cafeina e a nicotina.
Houve um matemático que disse:
Eduquem as crianças e não será preciso castigar os homens.
Houve um Jamaicano que disse:
Sabedoria é melhor que prata e ouro.
E há um povo que diz:
Não quero saber do que disseram!
E sempre haverá um ditador que dirá:
Quem manda sou eu!
Mas sempre existirá alguém como eu!
Que diz: quero que se fodam todos os Antónios!
Paulo Brites 2020
É comum encontrar lábios que nos atraem
sorrisos que nos desmontam
perfumes que nos confundem
olhares que nos encantam.
Mas é difícil encontrar sintonia mental!
Que não te queres despedir, não te cansam,
que dispensa o beijo
mas aguçam o desejo.
É fácil quem vem, difícil é quem chega!
Coisas passageiras. Raro quem perde tempo
com conversas interessantes,
que nos produzam sonhos cativantes.
Atrações físicas são comuns,
conexões mentais, raras.
Gente que nas palavras acolhe o nosso sorriso
não é só raro, bonito, como também é preciso.
Corpos com vontade de abraçar
mesmo que com orgasmos arrepiantes,
são corpos com vontade de assassinar
pela total ausência, de nos fazer arrepiar.
Paulo Brites