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As Imagens da Minha Objectiva

As Imagens da Minha Objectiva

27 de Novembro, 2020

Um poema e uma fotografia - parte XLVII - Jorge Bicho

Paulo Brites

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O que é a fotografia? Arte? Recordações? Mas afinal o que é uma boa fotografia? Enquadramento? Focagem? Mensagem? … Não! Uma fotografia é somente uma fotografia! Não há nenhuma que sem palavras ou memórias, seja uma boa fotografia!

 

"Olá, que estás a fazer?
O jantar.
O que é que vais fazer?
Um poema…
Só um poema, ou alguma coisa para acompanhar?
Sim, vou juntar-lhe o tempo…
e meia dúzia de pensamentos, dos mais pequenos…
Posso ajudar-te?
Claro, fazemos para os dois.
Passa-me aquelas palavras…
Quais?
As que estão por aí sem norte, desarmadas e frias.
E servem?
Vais ver, tenho um truque que as torna de ler e chorar por mais.
Não estão duras?
Com um pouco de paciência e cozedura lenta, amolecem.
Espera, preciso de bater primeiro o coração.
Queres que bata?
Bate comigo, os dois somos o número ideal.
Põe mais beijos…
mais, não deixes cair muitos de uma vez.
Tem já uma bela cor!
Estou a ficar cheio de fome.
Então pega no meu corpo e aquece-o,
não deixes queimar, mexe sempre os olhos,
repara na cidade e nas sombras que diminuem.
Cuidado não vá engrossar esse modo de ser.
Já podemos juntar tudo?
Falta-me a ternura, não sei se restou alguma,
tive um poema enorme a semana passada.
Espera, já cresceram mais umas folhas.
Apanha com cuidado, para a deixar crescer outra vez.
Agora basta que me tenhas e me queiras,
junta o ramo de cheiros que a tua memória colheu
cheira, como é boa essa pitada de loucura que juntaste.
Vá, senta-te, Vou servir.
Pão?
Não, prefiro assim.
Traz o vinho!
Tinto?
Claro, e tu senta-te, não quero começar sem ti."

Jorge Bicho

 

 

26 de Novembro, 2020

Um poema e uma fotografia - parte XLVI - João Monge

Paulo Brites

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Às vezes fico tenso,
fico “penso, logo é triste”
fico sem voz e sem gosto
com vontade de morder
as tuas maçãs do rosto
até chegar ao caroço.
Ser o arrepio do osso,
cobra de água de cisternas,
subir pelas tuas pernas,
provocar um alvoroço.

Ser o dono da risada,
do ai-ai, não digas nada,
que eu tropeço na vontade
Mando às malvas a prudência,
ganho fama na cidade
mas acabo mastigando,
remoendo e relembrando
o sabor da existência.

Às vezes, fico leve,
fico “penso, logo é breve”
fico solto de alegria
e as tuas maçãs do rosto
penso, logo já mordia!
É o assobio da cobra,
que se dobra e se desdobra,
na redonda melodia
e tu dizes «Já sabia!
Já sabia que caía»

No mar da tua risada,
no ai-ai, não digas nada,
que eu tropeço na vontade,
mando às malvas a prudência,
ganho fama na cidade
mas acabo mastigando,
remoendo e relembrando
o sabor da existência.

João Monge

 

 

21 de Novembro, 2020

Um poema e uma fotografia - parte XLV - Miguel Torga

Paulo Brites

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Recomeça...
se puderes
sem angústia
e sem pressa.
E os passos que deres,
nesse caminho duro
do futuro
dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.

E, nunca saciado,
vai colhendo ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar e vendo
o logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
onde, com lucidez, te reconheças...

Miguel Torga

 

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