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As Imagens da Minha Objectiva

As Imagens da Minha Objectiva

31 de Dezembro, 2020

Um poema e uma fotografia - parte L - Álvaro de Campos

Paulo Brites

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No acaso da rua o acaso da rapariga loira.
Mas não, não é aquela.

A outra era noutra rua, noutra cidade, e eu era outro.

Perco-me subitamente da visão imediata,
estou outra vez na outra cidade, na outra rua,
e a outra rapariga passa.

Que grande vantagem o recordar intransigentemente!
Agora tenho pena de nunca mais ter visto a outra rapariga,
e tenho pena de afinal nem sequer ter olhado para esta.

Que grande vantagem trazer a alma virada do avesso!
Ao menos escrevem-se versos.
Escrevem-se versos, passa-se por doido, e depois por génio, se calhar.
Se calhar, ou até sem calhar,
maravilha das celebridades!

Ia eu dizendo que ao menos escrevem-se versos...
Mas isto era a respeito de uma rapariga,
de uma rapariga loira,
mas qual delas?
Havia uma que vi há muito tempo numa outra cidade,
numa outra espécie de rua;
E houve esta que vi há muito tempo numa outra cidade,
numa outra espécie de rua;
Porque todas as recordações são a mesma recordação,
tudo que foi é a mesma morte,
ontem, hoje, quem sabe se até amanhã?

Um transeunte olha para mim com uma estranheza ocasional.
Estaria eu a fazer versos em gestos e caretas?
Pode ser... A rapariga loira?
É a mesma afinal...
Tudo é o mesmo afinal...

Só eu, de qualquer modo, não sou o mesmo, e isso é o mesmo também afinal.

Álvaro de Campos

 

 

29 de Dezembro, 2020

Um poema e uma fotografia - parte XLIX - Graça Aguiar

Paulo Brites

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Vai…
fecha os olhos, respira fundo
permite-te que seja agora...
Sente o que o coração te diz
bate as asas neste segundo
vence os medos de outrora
e promete-te ser feliz!

Vai…
rasga a encosta da montanha,
atravessa o firmamento
cruza o vento de sul para norte
mata um monstro de cada vez
cura cada dor da entranha
não cedas ao lamento
tu sabes o quanto és forte
então, vai… sê aquele que crês.

Graça Aguiar

 

 

27 de Dezembro, 2020

Feliz Ano Novo! Seja ele, a 27 de Dezembro ou a 1 de Janeiro

Paulo Brites

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Para muitos, o dia 1 de Janeiro, é o dia para definir novos planos, novas esperanças e novos objetivos. Bem, eu sou sempre diferente dos outros. Para mim, o dia de hoje, 27 de Dezembro, é o dia para dar início a um novo ano.

É o dia em que já esgotei 3 das minhas 7 vidas. Quem me conhece bem, sabe os meus “karmas” com os dias 27 de Dezembro. Sim é verdade! Já gastei 3 vidas em dias 27 de Dezembro! 1980, 1990 e 2002. Mas como qualquer gato, ainda me restam mais 4!

Pessoalmente, penso que, para definir mudanças e analisar o que somos e o que temos, não será necessário chegar a um qualquer dia de calendário. Mas verdade, o final de ano, é sempre uma boa altura para criação de analogias e metáforas a respeito de “recomeçar”. Como todas as mudanças, elas começam essencialmente em nós e, diante dessa oportunidade de mudança em nós próprios, originam-se, sem dúvida, algumas reflexões. Entre elas, está sempre, a tradicional: Veja-se como foi o ano que está a ficar para trás e pense-se como se quer o próximo, como tal mude! Troque! Recomece!

De “recomeço” em “recomeço”, temos criado uma ambição desenfreada de viver sempre uma nova história. De procurar por novas pessoas, frequentar novos lugares, criar novos objetivos profissionais. Sem notar, contudo, que viver todos esses anseios, sem ter lucidez nas nossas escolhas, não nos trará exatamente o ganho que se procura. Por isso, a pergunta que deveria caber a todos e, a cada um de nós, antes de qualquer cogitação de recomeço, é: O que é que exatamente se quer e procura?

… bem acima de tudo e para não matarmos a possibilidade real de transformação que se pretende, será muito importante, aproveitar o que de bom nos aconteceu nos últimos tempos. Que muitas vezes, não temos a capacidade de perceber tais acontecimentos. Portanto, o grande início desse recomeço, não será, recomeçar e dar a devida importância ao que temos?

Acho que sim! Acho que para além de novos objetivos, de novas metas, será muito importante rever se o que temos é por enquanto, só metade do que se queria. Se assim o é, será sempre por ai o ponto de partida para definir os nossos objetivos para o próximo ano. Porque, se já ou ainda, só temos metade, então que se lute e, se dê prioridade, para se conseguir, ter tudo!

Todavia... recomeçar, é mais do que unicamente superar o que deu errado. É antes, modificar o jeito, o trajeto, a fala, a forma, a maneira. É assumir! É ter ações que façam a diferença!

Como dizia Miguel Torga:

“Recomeça...
se puderes
sem angústia
e sem pressa.
E os passos que deres,
nesse caminho duro
do futuro
dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.
E, nunca saciado,
vai colhendo ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar e vendo
o logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
onde, com lucidez, te reconheças...”

 

Sim! Não vou querer só metade do que consegui! Vou continuar a ter ilusões! Definir como meta, as metades que me faltam! E, somente depois disso, se não as conseguir atingir, farei um novo recomeço! Só assim faz sentido …

Para mim, começa hoje dia 27! Para vocês, começa no 1º de Janeiro. Seja como for, feliz ano novo a todos!

 

 

23 de Dezembro, 2020

Uma fotografia, um poema, uma música - parte IX

Paulo Brites

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Pedro Abrunhosa - Ilumina-me

 

Gosto de ti como quem gosta do sábado
Gosto de ti como quem abraça o fogo
Gosto de ti como quem vence o espaço
Como quem abre o regaço

Como quem salta o vazio
Um barco aporta no rio
Um homem morre no esforço
Sete colinas no dorso

E uma cidade p'ra mim

Gosto de ti como quem mata o degredo
Gosto de ti como quem finta o futuro
Gosto de ti como quem diz não ter medo
Como quem mente em segredo

Como quem baila na estrada
Vestido feito de nada
As mãos fartas do corpo
Um beijo louco no porto

E uma cidade p'ra ti

Enquanto não há amanhã
Ilumina-me, Ilumina-me
Enquanto não há amanhã
Ilumina-me, Ilumina-me

Gosto de ti como uma estrela no dia
Gosto de ti quando uma nuvem começa
Gosto de ti quando o teu corpo pedia
Quando nas mãos me ardia

Como silêncio na guerra
Beijos de luz e de terra
E num passado imperfeito
Um fogo farto no peito

E um mundo longe de nós

Enquanto não há amanhã
Ilumina-me, Ilumina-me
Enquanto não há amanhã
Ilumina-me, Ilumina-me

Pedro Abrunhosa

 

 

15 de Dezembro, 2020

Aprende a ler o presente com o passado

Paulo Brites

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Olho para esta imagem e sei que nunca mais irei ver, novamente, este por do sol. O mais que poderá acontecer, será em algum momento, ver um semelhante. É este o poder da fotografia! Registar para memórias futuras o que já passou.

Será uma total perda de tempo, pensar que, irei voltar a viver o momento passado. Nunca isso irá acontecer. Se pensar nisso, para além de não ser possível, irá interferir no meu presente e anular o meu futuro. Se choro com saudades deste por do sol, as lágrimas, irão impedir, que vejo o nascer do dia de amanhã e, por consequência, irão também impedir, que veja o próximo por do sol.

Na vida também isso nos acontece. Olhamos para o passado muitas vezes com nostalgia e vontade de o reviver. Mas não! O melhor que o passado nos pode dar, não é uma fotografia, mas sim, uma experiência. Com essa experiência, ficamos mais ricos e atentos ao presente e, percebendo o presente, conseguimos de alguma forma, embora um pouco redutora, prever o futuro.

Aprendemos a perceber os momentos. Aprendemos a ouvir os outros. Aprendemos a ler os seus sorrisos e alegrias. Aprendemos a perceber as suas lágrimas. Aprendemos a olhar para as suas tristezas. Aprendemos a ler os seus silêncios. Aprendemos a sentir o que eles nos poderão dar no futuro. Como vamos ser, se com eles, quisermos caminhar.

Poderemos até desvalorizar o que queremos, pretendemos, o que desejamos. No entanto, se o fizermos, não estaremos a ser nós. Por querermos tanto, podemos estar a desvalorizar o nosso valor. E se assim for, estamos num caminho errado.

Aplica-se a tudo na vida! Até mesmo, a sentimentos como o amor e ou a amizade. A resposta para o presente e futuro, está no passado. Está no não ter medo de sair da zona de conforto e dizer: não é este o meu caminho! Claro que, é importante saber fazer isso. Teremos que ter alguma destreza para não nos enganarmos nas análises. Teremos também, que saber, se já foram esgotados todos os “sim” antes de dizer, “não”.

Mas seja como for, é para as sombras que deveremos sempre olhar. É nelas que estão as nossas respostas e não, na luz que os focos iluminam.

 

14 de Dezembro, 2020

Que nunca se confunda o que é o amor

Paulo Brites

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Quando vamos a um restaurante desconhecido, vamos com curiosidade, vontade, mas expectantes. Não é quando entramos e degustamos do jantar que faz do menu e do restaurante o melhor. Também não é a sua decoração que o faz ser venerado. É quando saímos e não se fala, não pensa, se foi barato ou caro. É quando saímos e somente se fala da comida. Que tudo foi bom. Os euros até se esquecem, tal foi a qualidade do que se comeu e a forma como fomos servidos. Um bom restaurante não é importante se pagamos 10 ou 100. Podemos ir a um restaurante onde se paga 100 € e ser muito mau. Tal como, o pagar 10 € e, ser muito bom.


No amor é igual. Não é somente o momento. É o dia seguinte! Não são as borboletas no estômago. É a sensação de leveza, bem-estar, paz interior. A sensação de que no mundo não há guerras, fome, maldade. É quando, mesmo sendo um triste dia cinzento de chuva, o faz ser, o mais belo, que o mais belo dia de sol. No amor, mais importante do que a presença (que é muito importante), é a ausência.
Sabemos que é amor, não quando se está a dar um abraço, mas quando, no dia seguinte, temos saudades, lembranças e necessidade desse abraço. É quando sentimos que o momento do abraço, foi deveras bom e, o queremos de volta. Quando não se pensa nas diferenças, mas nas semelhanças. É quando não importa o que nos afasta, mas só conseguimos pensar no que nos une. É quando sorrimos de forma parva e do nada. É quando não nos faz pensar, mas somente sentir. É isso o amor.

E claro, o bom, é quando numa hora de 60 minutos, faz dela ter 120 e dizermos: nem demos pelo tempo passar.

O que não é isso, será outra coisa qualquer. Mas não amor!

 

 

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