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As Imagens da Minha Objectiva

As Imagens da Minha Objectiva

27 de Novembro, 2021

Queres ouvir uma história que eu conheço sobre o algodão doce?

Paulo Brites

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- Olá!
- Olá!
- Estás a comer alguma coisa?
- Estou!
- Gostas muito de algodão?
- Gosto!
- Queres ouvir uma história que eu conheço sobre o algodão doce?
- Quero.

Açúcar com açúcar faz um mundo
que cresce nos teus olhos sem saber
que é Universo novo, nuvem névoa
e é para comer, e é para comer, algodão doce quem o quer,
mas olha bem para dentro desse Mundo
vê lá se vês pessoas a passar,
se nós quisermos todos, se nós quisermos todos,
o Mundo pode ser uma canção pra se cantar...

(…)

Não sujes o nariz com o teu Mundo
a tua nuvem doce de brincar
é leve como um pássaro assustado
que quer voar, que quer voar
algodão doce é vento a andar.
- Eu já olhei para dentro do meu mundo.
- O que é que viste?
- Só vi teias de açúcar a brilhar.
- ahahahahaha
- Se nós quisermos todos.
- Se nós quisermos todos,
o mundo pode ser uma canção para se cantar...

o Mundo é uma bola de algodão que está na nossa mão
e fica bem melhor se tu sorris.
O Mundo é uma bola de algodão que está na nossa mão
que está na nossa mão fazer feliz (…)

 

Joel Branco & Cláudia Krasmann - Algodão Doce

 

 

25 de Novembro, 2021

Estrela Da Tarde

Paulo Brites

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Era a tarde mais longa de todas as tardes
Que me acontecia
Eu esperava por ti, tu não vinhas
Tardavas e eu entardecia
Era tarde, tão tarde, que a boca
Tardando-lhe o beijo, mordia
Quando à boca da noite surgiste
Na tarde tal rosa tardia

Quando nós nos olhamos tardamos no beijo
Que a boca pedia
E na tarde ficamos unidos ardendo na luz
Que morria
Em nós dois nessa tarde em que tanto
Tardaste o sol amanhecia
Era tarde demais para haver outra noite
Para haver outro dia

Meu amor, meu amor
Minha estrela da tarde
Que o luar te amanheça
E o meu corpo te guarde

Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Se tu és a alegria ou se és a tristeza

Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza

Foi a noite mais bela de todas as noites
Que me adormeceram
Dos noturnos silêncios que à noite
De aromas e beijos se encheram
Foi a noite em que os nossos dois
Corpos cansados não adormeceram
E da estrada mais linda da noite
Uma festa de fogo fizeram

Foram noites e noites que numa só noite
Nos aconteceram
Era o dia da noite de todas as noites
Que nos precederam
Era a noite mais clara daqueles
Que à noite amando se deram
E entre os braços da noite de tanto
Se amarem, vivendo morreram

Meu amor, meu amor
Minha estrela da tarde
Que o luar te amanheça
E o meu corpo te guarde

Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Se tu és a alegria ou se és a tristeza

Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza

Eu não sei, meu amor, se o que digo
É ternura, se é riso, ou se é pranto
É por ti que adormeço e acordo
E acordado recordo no canto
Essa tarde em que tarde surgiste
Dum triste e profundo recanto

Essa noite em que cedo nasceste despida
De mágoa e de espanto
Meu amor, nunca é tarde nem cedo
Para quem se quer tanto

Ary Dos Santos / Fernando Tordo

 

Carlos do Carmo - Estrela Da Tarde

 

 

17 de Novembro, 2021

Uma tigresa que gostava de política em 1966

Paulo Brites

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Uma tigresa de unhas negras e íris cor de mel
Uma mulher, uma beleza que me aconteceu
Esfregando a pele de ouro marrom do seu corpo contra o meu
Me falou que o mal é bom, e o bem, cruel

Enquanto os pelos dessa deusa tremem ao vento ateu
Ela me conta, sem certeza, tudo o que viveu
Que gostava de política em 1966
E hoje dança no Frenetic Dancing Days

Ela me conta que era atriz e trabalhou no Hair
Com alguns homens foi feliz, com outros foi mulher
Que tem muito ódio no coração, que tem dado muito amor
E espalhado muito prazer e muita dor

Mas ela ao mesmo tempo diz que tudo vai mudar
Porque ela vai ser o que quis, inventando um lugar
Onde a gente e a natureza feliz vivam sempre em comunhão
E a tigresa possa mais do que o leão

As garras da felina me marcaram o coração
Mas as besteiras de menina que ela disse, não
E eu corri pra o violão num lamento, e a manhã nasceu azul
Como é bom poder tocar um instrumento

Caetano Veloso

 

Caetano Veloso - Tigresa

 

 

 

15 de Novembro, 2021

Tocando em frente

Paulo Brites

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Ando devagar porque já tive pressa
E levo esse sorriso
Porque já chorei demais

Hoje me sinto mais forte
Mais feliz, quem sabe
Só levo a certeza
De que muito pouco sei
Ou nada sei

Conhecer as manhas e as manhãs
O sabor das massas e das maçãs

É preciso amor pra poder pulsar
É preciso paz pra poder sorrir
É preciso a chuva para florir

Penso que cumprir a vida
Seja simplesmente
Compreender a marcha
E ir tocando em frente

Como um velho boiadeiro
Levando a boiada
Eu vou tocando os dias
Pela longa estrada, eu vou
Estrada eu sou

Todo mundo ama um dia
Todo mundo chora
Um dia a gente chega
E no outro vai embora

Cada um de nós compõe a sua história
Cada ser em si
Carrega o dom de ser capaz
E ser feliz

Almir Eduardo Melke Sater e Renato Teixeira De Oliveira

 

Maria Bethânia - Tocando em Frente

 

 

14 de Novembro, 2021

Ilumina-me

Paulo Brites

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Gosto de ti como quem gosta do sábado
Gosto de ti como quem abraça o fogo
Gosto de ti como quem vence o espaço
Como quem abre o regaço
Como quem salta o vazio

Um barco aporta no rio
Um homem morre no esforço
Sete colinas no dorso
E uma cidade pra mim

Gosto de ti como quem mata o degredo
Gosto de ti como quem finta o futuro
Gosto de ti como quem diz não ter medo
Como quem mente em segredo
Como quem baila na estrada

Vestido feito de nada
As mãos fartas do corpo
Um beijo louco no porto
E uma cidade pra ti

E enquanto não há amanhã
Ilumina-me

Gosto de ti como uma estrela no dia
Gosto de ti quando uma nuvem começa
Gosto de ti quando o teu corpo pedia
Quando nas mãos me ardia
Como silêncio na guerra

Beijos de luz e de terra
E num passado imperfeito
Um fogo farto no peito
E um mundo longe de nós

E enquanto não há amanhã
Ilumina-me

Pedro Abrunhosa

 

Pedro Abrunhosa - Ilumina-me

 

 

10 de Novembro, 2021

Rosinha dos Limões

Paulo Brites

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Quando ela passa, franzina e cheia de graça
Há sempre um ar de chalaça, no seu olhar feiticeiro
Lá vai catita, cada dia mais bonita
E o seu vestido de chita, tem sempre um ar domingueiro

Passa ligeira, alegre e namoradeira
E a sorrir, p'rá rua inteira, vai semeando ilusões
Quando ela passa, vai vender limões à praça
E até lhe chamam, por graça, a Rosinha dos limões

Quando ela passa, junto da minha janela
Meus olhos vão atrás dela até ver, da rua, o fim
Com ar gaiato, ela caminha apressada
Rindo por tudo e por nada, e às vezes sorri p'ra mim

Quando ela passa, apregoando os limões
Eu a sós, com os meus botões, no vão da minha janela
Fico pensando, que qualquer dia, por graça
Vou comprar limões à praça e depois, caso com ela

Fico pensando, que qualquer dia, por graça
Vou comprar limões à praça e depois, caso com ela

Artur Joaquim De Almeida Ribeiro

 

Martinho da Vila - Rosinha dos Limões

 

 

08 de Novembro, 2021

Balada de um Soldado

Paulo Brites

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Madre, anoche en las trincheras
Entre el fuego y la metralla
Vi un enemigo correr
La noche estaba cerrada

La apunté con mi fusil
Y al tiempo que disparaba
Una luz iluminó
El rostro que yo mataba

Clavó su mirada en mí
Con sus ojos ya vacíos
Madre, ¿sabes quién maté?
Aquél soldado enemigo
Era mi amigo José
Compañero de la escuela
Con quien tanto yo jugué
De soldados y trincheras

Hoy el fuego era verdad
Y mi amigo ya se entierra
Madre, yo quiero morir
Estoy harto de esta guerra

Y si vuelvo a escribir
Tal vez lo haga del cielo
Donde encontraré a José
Y jugaremos de nuevo

Mafalda Veiga

 

Mafalda Veiga - Balada de um soldado

 

 

07 de Novembro, 2021

Vaidade

Paulo Brites

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Sonho que sou a Poetisa eleita,
Aquela que diz tudo e tudo sabe,
Que tem a inspiração pura e perfeita,
Que reúne num verso a imensidade!

Sonho que um verso meu tem claridade
Para encher todo o mundo! E que deleita
Mesmo aqueles que morrem de saudade!
Mesmo os de alma profunda e insatisfeita!

Sonho que sou Alguém cá neste mundo...
Aquela de saber vasto e profundo,
Aos pés de quem a Terra anda curvada!

E quando mais no céu eu vou sonhando,
E quando mais no alto ando voando,
Acordo do meu sonho...E não sou nada!...

 

Florbela Espanca

 

 

01 de Novembro, 2021

O Capitão Fantástico

Paulo Brites

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O capitão fantástico
Usa um revólver de plástico
Que atira com desdém
E usa como capa a saia da mãe

Lá vai ele a mais de 1000
Sozinho num fantástico móbil
E nesse vai-e-vem
Às vezes dá por ele em Marte
Mas volta sempre à estação Mãe

Já foi à Lua e já voltou
Diz que não gostou, não o prendeu
É frio e escuro e o chão é duro,
É sempre tão difícil manter os pés no chão

E nisso o Capitão Fantástico
É até muito pragmático
Olha quem lá vem
À cabeça daquele regimento de ninguém

Ó se não é o Capitão outra vez em orbita
Será que volta ou não?
Já que Jesus não volta nem D. Sebastião
Ao menos que não demore o nosso Capitão

Já foi à Lua e já voltou
Diz que não gostou, não o prendeu:
É frio e escuro e o chão é duro,
Que é sempre tão difícil manter os pés no chão

Miguel Araújo

 

Miguel Araújo - O Capitão Fantástico